domingo, 13 de março de 2011

O dia em que o SESC Pompeia parou de servir uísque e destilados em geral – a não ser que você queira uma caipirinha...

Ver um bom show cover dos Beatles, sem micagens e preciosismos idiotas (a banda ridiculamente vestida de Sargento Pimenta, por exemplo), e quando o Edgard Scandura é o guitarrista solo convidado e a vocalista é uma moça charmosa e afinada - é realmente divertido

Mas ontem, após mais de dez anos freqüentando o Sesc Pompéia, fui surpreendido: o tradicional guichê de birita (estrategicamente posicionado ao lado do bar) fora extinto e realocado na entrada da choperia, com tediosas filas e uma porra de uma senha eletrônica de espera.

Pior: ao ir comprar minha generosa e merecida dose de vodka numa sexta-feira pós-carnaval, fui admoestado com veemência pela caixa do SESC: - vodka pura não tem (não pode – o governador e o prefeito não bebem; logo, não beberás).

- E uísque? Conhaque? Vodka?

- Apenas cerveja de lata, chopp e caipirinha.

- Mas não quero açúcar, gelo, limão; quero uma vodka com gelo. Só isso. É pedir demais? Preciso subornar o garçom pra não por tais ingredientes? Eu quero desse jeito, qual o problema? Não estou armado; não sou afeito a brigas, só quero ouvir um som tomando a bebida que eu desejo

- Só caipirinha, chopp ou cerveja em lata, respondeu a moça do caixa, broxada.

Um companheiro anônimo resmungou – um amigo fugaz da fila, món semblable, món frére. Reclamou a respeito da falta do uísque. Senti que não era paranóia da minha cabeça, fui endossado por um cara perfeitamente normal:

- Mas não tem mais dose pra vender? Qual o motivo? Podia até ser um conhaque. Por que não posso?

- Só temos essas bebidas que o senhor está vendo relacionadas no cardápio (de péssimo gosto, pendurado na parede).

Essa é uma tendência perigosa em São Paulo, a kassabização (hipocrisia anônima S/A, sem gosto e sem cor e sem cheiro e sem nada) da cidade: alguns bares da Augusta já não vendem CERVEJA antes do meio-dia.

Só me faltava essa: o bar ficou moralista. Ele, como um ser senciente, decide o que você vai tomar, e no horário em que o dono achar mais polido, mais respeitoso.

È o Estado tutelando sua vida privada

E por que não um uísque? Até as drogas legais estão sendo banidas, ou controladas.

Totalitarismos quase imperceptíveis, de tão perniciosos. A crescente espiral de idiotice.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Mercado financeiro

Segue abaixo um excerto impressionante de uma reportagem que explica muito sobre a nossa época.

Quando a hipocrisia cai, um mundo de horrores se descortina à nossa frente. Exterminem todos os brutos!

“No fim de outubro, quando o economista Kevin O'Rourke postou em seu blog um pequeno artigo intitulado “O que os mercados querem?”, dezenas de leitores tentaram responder.

Resumo de uma das respostas, sob pseudônimo: “Os mercados querem dinheiro para cocaína e putas. Sério. A maioria das pessoas não percebe que “os mercados” são na realidade recém-formados em administração de 22 a 27 anos, que inventam furiosamente estratégias de compra e venda em planilhas Excel, se reportam a chefes cinco anos mais velhos e, geralmente, têm a mentalidade e inteligência de ginasianos. Um plano orçamentário de quatro anos não vai deixá-los satisfeitos. Daqui a quatro anos estarão fora do negócio ou promovidos a uma posição na qual a Irlanda não lhes importará mais. Em vez de um orçamento apropriado, o que o país pode fazer é subornar as agências de classificação de risco. Pão e circo para as massas, cocaína e prostitutas para o mercado. Por que não explorar o fato de que o sistema é caótico e aético para fazer algum bem ao país em vez de levá-lo à falência num esforço para comprar BMWs novos para os solteiros de 25 anos?”

Da reportagem “A praga dos bancos”, da revista Carta Capital (24/11), sobre a crise da União Europeia e dos países periféricos do velho continente – Irlanda, Espanha e Portugal.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Conclusão

O amor e a paixão, mesmo quando sentidos sob todas as fibras do nosso corpo, são inventados em nossa imaginação; lá germinam, crescem e morrem, sem nunca ninguém saber quando e como existiu.

O amor é imaginado, antes de sentido e/ou concretizado.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Do lado de dentro

Aubrey Beardsley - Lysystrata


Ele está chegando, mas sempre parte logo. Os lábios pegando fogo, enquanto você está de cabelos molhados.
Alguém que tomou um elixir mas ainda permanece sonhando acordado e amando sonâmbulo.

Algo que fica no ar. O grito do ginasta, o medalhista sanguíneo. A mulher arrebatada por sabe-se lá quem, e por quais motivos?

Há sempre um soluço contido Há sempre a multiplicação das lágrimas num amplo manancial, há sempre os braços abertos para acolher Alguém. Mas que logo estará de partida, sabe-se lá pra onde.

Talvez seja eterno. Talvez azede rapidamente como uma garrafa de vinho aberta na geladeira.

Talvez nunca volte, talvez nunca telefone. Talvez esteja tatuado no ventre pro resto da sua vida.

Talvez ele te observe numa vigília eterna, e quando você abrir os olhos, ele se foi, como a alma liberta de um pássaro, riscando o céu do crepúsculo cor de vinho.

E ele não saberá mais de que matéria é feita o sofrimento da existência, o júbilo do amor, e a limpidez de uma lágrima ardente, daquele que um dia lambeu-a com gosto, como se seu corpo tenro e seus lábios macios fossem a consistência e a matéria física do Amor.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O começo

O fim, nem mais nem menos – as fichas da mesa de bilhar acabaram e a grana acabou; você olha de soslaio, esparrama as bolas coloridas com as mãos & a estação de rádio toca uma música que não corresponde ao momento.


Você vasculha o bolso da calça procurando moedas e só sente o forro da alma perdida no espaço-tempo, você precisa ir embora, pois o dia quando nasce para os loucos distribui certezas imprestáveis ou roteiros inacabados sobre a vida no Paraíso.


O último capítulo da novela não me revelará nenhum segredo, querida. Desculpe.


O fim de um relacionamento; o último pingo caindo de uma garrafa de vodka nacional, aí sim, o fim de tudo mais melancólico do mundo.


Quando desistimos de algo e permanecemos soterrados por camadas de cinzas e lava em posição fetal como um habitante de Pompéia que sonhava com o amanhã dourado.


O fim somos nós, pois a vida segue, dentro ou fora da galáxia. O desespero somos nós: o medo, a fuga, a doença.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Love




"Situations have ended sad, relationships have all been bad. Mine have been like Verlaine's and Rimbaud" (Dylan)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sempre um papo 27.04 – Claúdio Willer e convidados falam sobre a poesia de Roberto Piva

"Sou uma metralhadora em estado de graça"


Ontem novos estranhos sinais de saturnos foram enviados em favor do poeta Roberto Piva, que desde o início do ano convalesce por conta de alguns problemas de saúdes graves, e também pelo fato de não ter um “plano de saúde”, esse salvo conduto do Inferno dos hospitais brasileiros.

Após o sarau literário (ou porre espiritual, como afirmou o jornalista Jotabê Medeiros, ou o mais empolgante sarau que já participei) na galeria B_arco, no mês de março, os amigos e admiradores de Piva continuam angariando fundos para ajudar o poeta. Cláudio Willer, poeta, tradutor e exegeta da obra de Piva, participou do evento “Sempre um papo”, no SESC Vila Mariana. Seu cachê foi doado para o tratamento hospitalar do poeta da Santa Cecília.

O evento teve a participação de amigos e admiradores da obra de Piva, que contaram breves relatos sobre a obra do poeta ou ainda a relação pessoal que existe entre eles (amizades de até 40 anos), como o cineasta Ugo Giorgetti, que definiu de forma lapidar o livro “Paranóia”, de 1963:

- A São Paulo que o Piva retrata nesse livro não é a cidade que existia em 1963, mas sim uma cidade que só apareceria 30, 40 anos depois. Ele via algo que nós não víamos, e esse é o sentido da experiência do poeta, do vate”.

Toninho Mendes discorreu sobre a publicação de Piva e Willer na revista “Chiclete com Banana”, fundada em parceria com Angeli, e que divulgou a geração Beat e os dois poetas no Brasil, no início da abertura política, e do impacto que causaram à época. Já o poeta Roberto Bicceli, bastante emocionado, definiu a importância de Piva no cenário poético das próximas gerações:

- Daqui a 300 anos vão falar do Piva como hoje falamos do Gregório de Matos, o Boca do Inferno.

Claúdio Willer, por sua vez, leu um texto preparado por ele para a ocasião (o primeiro volume de obras reunidas de Piva, Um estrangeiro na legião, conta com um texto brilhante a respeito de cada um dos livros do poeta) no qual aborda o cruzamento da obra de poetas como Jorge de Lima, Allen Ginsberg, Gregory Corso e García Lorca em inúmeras passagens da poesia de Piva.

Um fato interessante abordado por Willer foi o fato de no final de década de 50 Piva ter importado pilhas de livros da City Lights, do poeta Lawrence Ferlingheti, com a publicação dos autores da geração beat, quando eles ainda eram vistos como jovens excêntricos, viciados em drogas e blá. Willer se tornaria o tradutor de Ginsberg, Piva trocaria correspondências com Michael McClure, e receberia o livro Jaguar Skies com a seguinte dedicatória a ele: “We are instruments that plays ourselves”. O resto já é história. Viva Piva!